Percebo que muitas vezes, relacionamentos – sejam amorosos ou mesmo familiares – são conflituosos pois estão apoiados em uma trama de mentiras, num jogo de constantes acusações e vitimizações e muita energia é gasta diariamente para manter essa dinâmica. E mesmo a pessoa sofrendo, trazendo que não aguenta mais e que sua alma está pedindo socorro, no dia a dia não consegue largar a persona que foi criada, os hábitos nocivos que sustentou essa persona (máscaras) até então e acaba repetindo e alimentando essa trama, abafando cada vez mais a tentativa de libertação do Self (quem se é na essência, o si mesmo).
Você pode pensar que isso é natural, mas afirmo que não é. Pode ser usual – uma vez que a grande maioria segue esta dinâmica na vida – mas natural definitivamente não é. Como que as pessoas querem paz, saúde e realização violentando diariamente sua alma; negando o que faz sentido, o que se tem a oferecer ao outro de forma mais pura; calando os anseios e desejos da alma em troca de uma aceitação ou de manter a persona que agrada ao grupo que se pertence.
Se desnudar para dar voz ao Self e com isso achar o equilíbrio e a forma de se apresentar para o mundo pode ser dolorido, mas é de uma grandiosidade e profundidade absoluta. É libertador se encontrar e se fortalecer para enfrentar o mundo; as situações se tornam mais fáceis de serem vivenciadas porque ao invés de ter sua persona jogando contra a sua essência – e por isso dividindo esta força interna – você tem a união potencializando sua firmeza, sua vontade; seu ego se torna fortalecido e é ele quem vai conseguir se relacionar com o outro sem se violar.
Dias atrás, no Vidya Yoga, escutei uma explicação sobre os benefícios de se realizar (se encontrar, dar voz a sua essência), que vem ao encontro do tema de hoje. É uma frase do Osho se não me engano cuja essência fala: o processo do autoconhecimento não é algo que se ganha. Você não ganha, não acrescenta nada na vida que você leva, pelo contrário, você perde. O processo de autoconhecimento é uma perda constante daquilo que não te serve mais, de todas as roupagens (persona) que esconde sua essência, de todas as armaduras que te impedem de se expor, de dar e receber o melhor de você. Interessante, não? Para ajudar no entendimento, imagine uma cebola. É como se sua essência fosse aquele miolinho dela e o processo de autoconhecimento, para se acessar a essência, você precisasse tirar as camadas, uma por uma.
Ser único incomoda porque aprendemos que devemos ser iguais; crescemos vivenciando que é mais fácil seguir um modelo do que descobrir qual é a sua forma e com isso se relacionar mesmo sendo diferente. Mas quanto mais forte nossa persona se torna, mais longe estamos do nosso self. E como o universo é sábio, um dia ele te cobra atenção. O Self começa a pedir passagem, ele clama por atenção e não se pode mais negá-lo. Se resistirmos a este processo, nossa alma adoece. Uma alma adoecida novamente pedirá por atenção, mas desta vez somatizando doenças como forma destes sintomas serem olhados e cuidados. Há um ditado hindú que fala que “toda doença é saudade de casa”. Jung, por sua vez, fala que “os sintomas são deuses” e quando ele fala isso, ele fala sobre esta nova chance que temos de nos olhar, de mudar o que precisa, de acolher nossas fragilidades. Percebemos que todas as diferentes falas complementam uma a outra. Sempre é tempo de mudar. Sempre é tempo de se escutar, de se resgatar, e a psicologia analítica de Jung reverencia este processo. Nós não aceitamos cópias, valorizamos apenas os originais. E a chave da realização está em se encontrar.
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