Tuesday, May 10, 2016

Quem é o herói?


Você acha que um herói é aquele que faz mais, que consegue agir, colocar pra fora todo o seu potencial e que os outros vão valorizar? 

Pois bem...se a gente associar o herói com os heróis de filmes e quadrinhos é bem capaz que a mensagem que fique é esta. Mas lendo um trecho do livro Sob a Sombra de Saturno, de James HOLLIS ele fala sobre o verdadeiro herói, em sua forma arquetípica, que foi deturpado ao longo da vida: o herói arquetípico está presente dentro de todos nós. E ele representa a capacidade natural de reunir energia que servem a vida, matar os demônios internos; ou seja, quando a gente reúne energia para enfrentar nossos medos e dores. 

Ou seja, é um trabalho interno. Cujo herói é aquele que serve para lutar contra tudo que te faz perder a vida, a alegria, tudo aquilo que te tira do caminho. E é justamente nesta parte que nós perdemos. Deixamos nossos heróis adormecidos porque estamos muito mais preocupados em agir e mostrar que somos capazes de algo mas tudo para fora e para os outros. 

Cuidado para um ato heroico não ser um ato do ego, da persona. Resgate seu herói arquetípico e lute por você. 
Está preparado? 





Marcella Helena Ferreira
Psicoterapeuta Junguiana
11-99604-5099

Thursday, April 28, 2016

A era do imediatismo e o processo terapêutico





Vivemos em uma época em que os dias estão sempre atribulados, com agenda cheia de compromissos; rodeados de pessoas sem muita paciência e tudo isso é reflexo de um comportamento geral da nossa era. O próprio avanço tecnológico veio contribuir e muito para este dinamismo diário, mas nos faz também refém da facilidade extrema, de estar acompanhando tudo, em vários lugares do mundo, sem se preocupar com a hora, com a localização...tudo sem fronteiras.

Este ritmo de vida alimenta uma necessidade do excesso, de superar as expectativas, de se conquistar e saber mais e com isso, se busca também novas sensações, novas experiências, querendo superar também os limites do próprio corpo. Não é à toa que grande parte das pessoas estão buscando nos vícios essa sensação de escape e euforia que o dia a dia não consegue entregar. Mas sobre os vícios falarei em outro post. Nosso foco aqui continua sendo o “eu quero e tem que ser agora”. No livro O Mito do Significado – de Aniela Jaffé, ela cita um estudo sobre o uso de substâncias alucinógenas como ponto de contato com o inconsciente, cujo efeito colateral foi considerado quase que uma experiência religiosa, tamanha transcendência alcançada com a experiência. Ela cita também que este cientista acreditava que o uso dessas substâncias acelerava o contato dando melhores resultados no processo terapêutico, sendo assim muito usado pela “psicoterapia moderna” como meio de atingir os objetivos mais rápidos que a psicoterapia convencional.

Jung não desacreditou que algumas experiências relatadas teriam sido realmente quase que religiosas (e entenda aqui religioso como uma voz do Self, um contato maior com algo divino, numinoso) porém faz uma grande ressalva que eu concordo inteiramente, repudiando o uso de drogas em psicoterapia por respeitar a natureza e seus ritmos e leis próprios: “Uma experiência do inconsciente induzida artificialmente não está, em geral, de acordo com o desenvolvimento e a maturidade da personalidade. (...) Qualquer conteúdo que emerge do inconsciente para a consciência implica um dever espiritual ou moral, que, se não for cumprido, levará a incompreensões, complicações, sofrimento e doença.“

Ao longo do texto, fica explicito a preocupação de Jung em acelerar contatos e descobertas do inconsciente pois ao fazer isso, o que seria uma grande chave da transformação se torna um grande problema. Acho interessante o respeito pela pessoa em aceitar o tempo de cada um; respeitando os avanços e as descobertas conforme a prontidão para se lidar com cada assunto. Foi inevitável recordar de algumas ansiedades e angustias de clientes que querem correr com o processo terapêutico porque se veem na obrigação de ter respostas sobre tudo e o mais rápido possível.

Analisando a angustia, fica nítido que esta urgência que eles precisam esclarecer faz parte deste padrão fora consultório, que não se tem tempo de se questionar, de “dormir” com uma questão para senti-la ao fundo; que cobra uma solução imediata, respostas prontas na ponta da língua, até mesmo informação pronta vindo da terapeuta – como se isso fizesse ganhar tempo. Uma vez escutei uma história cômica sobre uma mulher que foi questionada sobre ter filho, ela afirmou que queria engravidar mas que achava a gestação uma coisa muito louca nos dias atuais, porque “quem hoje tem 9 meses para ter um filho?” Achei a colocação muito engraçada porquê de fato, como que nessa rotina doida se tem 9 meses para esperar algo “ficar pronto”? Tenho certeza que foi um jeito escrachado de falar sobre uma realidade: nem tudo se conquista na hora que se quer; é preciso esperar o ritmo da natureza e ela é perfeita. E o que parece ir contra o fluxo da rotina imediatista, ter um filho é um ato de coragem e tanto!

Enfim, quis trazer este tema para vocês refletirem sobre essa pressa toda em querer dar conta do mundo como se isso fosse mérito de pessoas capazes e superiores. E como é importante se respeitar, respeitar seu ritmo próprio principalmente no processo terapêutico onde cada questão tem que ser trabalhada com atenção, dedicação e principalmente respeito. Pode levar o tempo que for, o importante é tudo acontecer de verdade, quase que com uma devoção a própria história. Sentindo cada etapa, ouvindo cada sinal, vivendo cada transformação de corpo e alma. Na terapia, o imediatismo fica off-line, ok?

Marcella Helena Ferreira
Psicoterapeuta Junguiana
marcellahlferreira@gmail.com
     


Wednesday, April 20, 2016

Superman vs Batman - Luz, sombra e a figura das mulheres no caminho dos heróis

Hoje a bola da vez é a épica batalha entre o e luz e sombra, ou melhor entre Superman e Batman. E como sempre tem acontecido, antes mesmo de terminar o filme eu já estava querendo sair do cinema para escrever algo a respeito, o filme é repleto de uma simbologia envolvida por arquétipos como deuses, heróis , anima e trickster.
É claro que o filme não é apenas isso, para quem gosta dos HQ´s o filme é bom demais, superou minha expectativas, já que antes de assistir ouvi comentários afirmando que o filme era confuso, mas sinceramente não existe confusão, o que existe é linguagem do inconsciente exposta a todo momento, o que existe é um belo paradoxo que se configura através do seguinte pergunta: "Deuses podem andar e conviver entre os homens ?" questionamento levantado porque Superman passa a ser visto como um deus entre os homens.
Imediatamente fui levado para a mitologia e a hybris cometidas pelos os homens quando se achavam no direito de andar e conviver entre os deuses, tal ambição não era tolerada por nenhum deus, por isso, todos eram colocas de volta em seus lugares, eram castigados ou presos no mundo de Hades. Quando um deus é levado a conviver entre os homens e de acordo com as leis terrestres, pode ser que muitos dos seus atos mesmo que divinos sejam questionados. Se usarmos essa ideia do filme podemos até entender o ditado sobre os caminhos sinuosos nas palavras de Deus - "Deus escreve certo por linhas tortas." 
Muitas vezes não vamos entender porque passamos situações desagradáveis, fracassos e doenças, quando isso acontece culpamos a vida, mas existe algo importante à saber, todos esse infortúnios talvez sejam o chamado do daimon que existe dentro de cada um, talvez seja apenas uma falta de entendimento do que os deuses querem nos mostrar. Então, se questionamos a falta de sorte perante a vida e culpamos os deuses, imagine o que não aconteceria se ele estivesse vivendo como nós, com certeza iriamos questionar da mesma forma. 
E veja que simbólico, Lex Luthor em determinado momento fala que um quadro, adorado por seu pai, deveria ser virado de ponta cabeça porque assim o demônios estariam no céu e não mais mais na terra, e em vários momentos aparecem símbolos e imagens que fazem essa relação ligando os heróis do filme no papel inverso, no papel de demônios e não mais de deuses.  
Já que estamos falando de simbologia, vale apena fazer algumas outras relações, o mal existe sim, e muitas vezes não percebemos porque ele se mostra em de uma outra forma, que pode ser representado através do que Jung entende como o arquétipo do trickster, uma figura que faz brincadeiras bobas, em parte divertidas e parte venenosas, assim como Lex Luthor, fazendo seus jogos mortais. que num tom de brincadeira oculta sua ambição por mortes.
O filme me surpreendeu pelo o que Jung chama sizígia representada entre Superman e Batman. O primeiro, visto como o representante da luz, do outro lado temos o cavaleiros das trevas, da noite . Não seria então luz e sombra? Essa batalha que é sempre presente no cinema através muitos outros filmes como por exemplo Star Wars e Harry Potter ou mesmo em nós mesmos em meio a uma discussão interna sobre determinadas decisões. 

Entre tantos motivos arquetípicos encontrados no filme não podemos deixar de falar do arquétipo coletivo da anima - termo utilizado por Jung para representar esse fator compensatório no homem de natureza feminina, na mulher o termo utilizado é animus.
Podemos entender no filme que esse arquétipo é representado através da heroína "Mulher Maravilha" e a simples mortal Lois Lane, essas duas mulheres realizam um papel importante no filme assim como as mulheres em nossas vidas.
A figura da mulher interna que existe no homem e que na psicologia junguiana conhecemos como anima é formada em primeiro lugar pelas primeiras mulheres da vida, mãe, avós e/ou cuidadoras, já na vida adulta o contato com essa figura do inconsciente pode ser experienciado através dos relacionamentos com nossas companheiras, esposas e/ou namoradas, e através do deste contato o homem pode encontrar seu caminho para a espiritualidade e afetivo, mais que isso, abre a possibilidade de relacionamento verdadeira com nossas mulheres. É através de Lois Lane que Superman se supera, é através da anima - ou animus para mulher - que podemos encontrar os caminhos para evolução e expansão da consciência.

Dentro da psicologia junguiana exploramos essas imagens através dos sonhos e outros recursos terapêuticos de tal forma que podemos entender como influenciam nossos relacionamentos no âmbito social ou familiar.

Daniel Gomes
psicoterapeuta junguiano
dgterapia@gmail.com


referencias
JUNG, Carl Gustav. 2011b. Aion.
JUNG, Carl Gustav. 2011b. Arquétipos do inconsciente coletivo.